Não é nenhuma novidade, que na história
da classe trabalhadora, a opção da inserção na ordem pela via eleitoral, sempre
foi um dilema. No caso brasileiro, mais do que um dilema, revela-se uma
frustração jamais vista em nossa história. E por que? Não tendo todas as condições
ou por opção conciliadora, os governos ditos populares, não aplicaram teorias
econômicas anticapitalistas, ao contrário, recorreram às teorias já postas, de
John Maynard Keynes que pregou o consumo desenfreado, o endividamento e o crescimento
pelos investimentos do Estado e, no final, migraram para o “monetarismo” de
Milton Fridman que pregou o controle monetário, retirando os créditos e
controlando a inflação pela dificuldade do consumo e acesso à moeda.
O princípio revolucionário de que se
deve priorizar e lançar mão de todas as formas de luta continua válido. É assim
que acumulamos força e vamos descortinando o horizonte da revolução; enquanto
as massas fazem o seu aprendizado, amadurecem e ajudam a construir, através das
táticas, o objetivo estratégico. No entanto, é importante recapitular que o
princípio prega o uso das “diferentes formas de lutas” e não o amortecimento de
muitas para o fortalecimento de uma, se é que se podem chamar as disputas
eleitorais ainda de lutas.
Às vezes é difícil explicar as
contradições, mesmo que os elementos estejam evidentes. Mas, o Estado Moderno
cuja forma política centralizada de poder surgiu com o capitalismo, nada mais é do que o
instrumento de apoio ao capital para que ele possa se reproduzir com maior
segurança. Para isso, constituiu um poder específico só para fazer leis que,
ideologicamente escondem interesses e podem de um momento para outro, inverter
o processo e fazê-lo seguir de ponta-cabeça. Para enquadrar os inimigos, basta
formar uma maioria. Se não há lei, fabrica-se uma; se não há crime, inventa-se.
Na medida em que as forças
revolucionárias aceitaram a jogar o jogo da legalidade desde a década de 1980,
ganhando e perdendo civilizadamente, na hora em que tudo parece ser legal,
mesmo não havendo crime, a desobediência às leis fica comprometida. O resultado
pode até ser contestado, mas o jogo chega ao fim. Então chega a hora da dura
avaliação de que, do ponto de vista estratégico, a presença dos trabalhadores
nos governos do Estado capitalista deu errado.
Mas por que os capitalistas e
aliados, como os banqueiros, os fazendeiros, os produtores de veículos e de eletrodomésticos
etc. revoltaram-se, se no percurso do projeto que golpeiam, foram os que mais
ganharam?
Sabem essas forças que a crise é
econômica, nacional e internacional, mas a disputa é pelo Estado e, nas
políticas de bem-estar-social implementadas, os custos governamentais
aumentaram que só há duas maneiras de resolvê-los: aumentando impostos ou
aniquilá-los, mesmo que sejam direitos garantidos pela Constituição de 1988. A
raivosa ofensiva da direita é contra os direitos sociais contidos na
Constituição e que até aqui não havia força para destituí-los e contra os programas
sociais que o PT tentou implementar, sem prever as fontes de pagamento.
Fica a lição, de que na sociedade de
classes, não há como beneficiar os dois lados. Toda vez que os trabalhadores
pensarem em disputar eleições para chegar ao governo (não ao poder), terá que
ter o propósito antecipado de punir os exploradores taxando as
suas fortunas, quando não, confiscando-as, caso contrário não há como
distribuir renda e riqueza no capitalismo. E toda vez que isto não for feito, as disputas
eleitorais darão errado. Ademar Bogo, filósofo,
escritor e agricultor.